CONVERSA DE UM PROFESSOR E UM ALUNO SOBRE PROJETO DE TCC
ALUNO: Ai meu
Deus . . . . preciso fazer o pré-projeto
do tcc. Até agora, só tomei cerveja nas férias . . .
PROFESSOR: Vai
fazer o pré-projeto, menino . . . .
ALUNO: Prof, o
que precisa ter num pré-projeto?
PROFESSOR: Gente, como o
próprio nome já diz, é um pré-projeto. Pode sofrer algumas modificações. É
importante que tenha um número de referências viável, ou seja, seja embasado na
literatura, que tenha uma idéia plausível (ou seja, não precisa estar sozinho
numa torre de marfim, você pode fazer algo que outros já fizeram, porém com
embasamento), e que seja organizado, bem escrito.
Para escrever um
texto, sempre pensamos no leitor. A dica é: Depois de escrever, guarde. Deixe
um dia descansando. No dia seguinte, leia em voz alta. Se tiver alguma parte do
texto que você não entendeu, é claro que o leitor também não vai. Não tenha
pressa. Isso não tem nada a ver com a inspiração dos músicos.
Um pré-projeto
tem que ter uma introdução, que é o item onde o autor irá aproximar o leitor
sobre o tema que tratará o projeto. Por exemplo, se eu vou analisar a
prevalência de depressão pós-parto em puérperas da Unidade de Saúde do Jardim
xxxxxx (meu Deus, de onde eu tirei essa . . .
ahahah . . .), você vai ter que falar um pouco sobre a depressão, depois
sobre especificamente a do pós-parto, suas conseqüências, causas e a relação da
Fisio com esta prática.
Logo após a
introdução, vem a justificativa. Nesse item, você deve se perguntar o por quê.
Ou seja, por quê eu preciso estudar a depressão pós-parto? Por quê estudar
acidentes de motocicleta que aconteceram na Avenida Colombo em Maringá no ano
2054? Daí, responde-se a pergunta. Para isso, tem que ter referências de
estudos que digam que isso é importante, que provoca um custo alto para o
sistema de saúde, etc.
Logo depois vem
o (s) objetivo (s). É fundamental que um bom objetivo seja traçado. Como já
sabemos, um objetivo começa com um verbo no infinitivo. Por exemplo: conhecer a
prevalência de depressão pós-parto em puérperas da Unidade Básica de Saúde do
Jardim São Manoel do Nordeste. Este seria meu objetivo geral, ou seja, o mais
importante, mais forte, o que eu realmente quero saber. Objetivo específico é
que vem em segundo plano, menos importante. Por exemplo, eu penso em ir até a
UBS para olhar nos prontuários para saber quantas e quais as características da
depressão pós-parto (medicamentos, Fisioterapia, tempo de depressão, etc.). Já
que eu vou até a UBS, vou ter que produzir um roteiro ou um instrumento de
coleta, que eu utilizarei para coletar os dados. Então um objetivo específico
simples seria: Produzir instrumento para coleta de dados dos prontuários.
Logo após vem a
metodologia. Sabemos que é um item fundamental. Aí tem que ir COMO queremos
fazer o trabalho. Assim, estará aí o local do estudo, como é o prontuário,
quais as variáveis que vou coletar (medicamentos, Fisioterapia, condutas, tempo
de depressão, etc.), como vou analisá-las, com que programas, etc. Se você
pretende tratar paciente, descreva exatamente como será o tratamento
inteirinho, referenciado, com mais de 2 referências, se possível. Se você vai
avaliar paciente, descreva os testes da mesma forma. Se você vai avaliar,
depois tratar e depois reavaliar, explique cada uma das etapas detalhadamente,
com referências. EXPLIQUE TUDO . . . . .
Depois vem um
cronograma organizado numa tabela. Pode ser organizado mensalmente, sendo que
devem existir etapas de execução na coluna. Podem ser: Levantamento
bibliográfico, coleta de dados – parte 1, coleta de dados – parte 2, análise
dos dados, redação final, correção, entrega a banca examinadora, defesa,
entrega da versão definitiva. (é um exemplo).
Logo depois, vem
as referências. Se tem dúvidas de como citá-las, faça pela ABNT. Se tiver
dificuldade, tá mais fácil nas normas da Revista Uningá, no site da Uningá.
Se você for
utilizar algum questionário já validado na literatura, como por exemplo, o sf36,
coloque-o em anexo. Se você mesma está preparando seu instrumento de coleta e
já tem ele pronto, também coloque. Pode ser um exemplo, uma ficha de avaliação
dos seus pacientes.
Dicas extras: Faça uma capa, um
sumário, deixe seu texto organizado e formatado.
Você tem apenas
1 ano ou menos para a execução do seu projeto. Não vai achar que dá tempo pra
atender 355 pessoas e fazer com cada uma delas 50 sessões. Vai com calma. Melhor
fazer algo pequeno, enxuto e bem organizado.
Acompanhe o que
a literatura fala sobre o assunto. Seja prudente e circunscrito. Lembre-se de
não estar na torre de marfim sozinho.
Se você tem
alguma facilidade com um tema, escolha ele.
Se você tem
algum facilidade em entrar num Hospital, por exemplo, porque já trabalhou lá ou
trabalha, escolha fazer o tcc lá. Vai ser mais fácil, principalmente a coleta
de dados.
Se for possível
e já souber fazer, faça um termo de consentimento livre e esclarecido. É um
termo que os pacientes que vocês irá coletar dados terão que assinar. Os termos
que ele contém são fáceis. É para leigos.
Gráficos e
tabelas também podem ser colocados no texto, para ilustrar o que está escrito.
Redija um título para cada ilustração e não esqueça de citar a fonte.
Referências
dever ser de literatura científica. Referencie só coisa boa. De revistas boas.
Referências de sites, principalmente quando não tem quem escreveu são pobres,
fracas, qualquer um pode escrever o que quiser e postar num site ou blog
(hahahaha . . .).
Não se esqueça de
ler o próprio texto no dia seguinte para ver se você mesmo que escreveu, entende.
Se possível em voz alta e para outra pessoa escutar. Não pode ser o gato nem o
cachorro.
ALUNO: Prof, isso tudo eu já sabia. Mas o que eu não consigo é
pensar num tema. Queria fazer sobre crianças. Me ajuda?
PROFESSOR: Existem milhares de coisas que você pode pesquisar nas
crianças. Você tem que definir algo. Exemplo: Analisar a interferência da
retificação dorsal (ou dorso plano) em crianças com encurtamentos de IT. Pra
isso, você tem que pensar se tem essa possibilidade. Se você conhece alguma
clínica que tem vários pacientes deste quadro, etc.
ALUNO: Mas e de Pneumo???
PROFESSOR: Você é que tem que ver o que quer pesquisar. Exemplo:
Quero analisar a força muscular respiratória em pacientes lesados medulares.
Sei lá . . . Qualquer coisa, cara . . . Nesta fase que eu estou, eu iria analisar
a prevalência de retificação dorsal em pacientes com hérnia discal. Hahah h h h
. . . .
As dicas estão
aí. Escolha algo que goste, pois você vai ler muito sobre o assunto. Vai
estudar bastante. Tem que gostar daquilo.
Algumas
pessoas estudam Metodologia Científica e tratam isso em fases, quase da forma
que falei pra você. As vezes, fala de um problema.
Exemplo: Orientei
um tcc agora que tinha um problema: O importante número de acidentes de
trânsito na Avenida Colombo. Isso porque sempre escutamos falar que isso é uma
epidemia e que um tempo atrás os radares foram tirados da avenida por causa da
mudança da Polícia. A partir daí, é possível formular uma hipótese (suposição).
Portanto, aí vai:
Resumo metodológico: Analisando dados
de acidentes de antes e depois da mudança de comando da Polícia, é possível ver
se os acidentes aumentaram ou não e como os padrões deles se modificaram.
Tema: Violência no trânsito
Problema: Crescente e epidêmico número
de acidentes de trânsito em Maringá, que provoca aumento de custos para o
indivíduo, sistema de saúde e sociedade
Hipótese: O número e a gravidade dos
acidentes de trânsito na Avenida Colombo aumentaram depois da mudança de
comando da Polícia
Desta forma,
tenho organizado na minha cabeça o que eu acho que vai acontecer, o que eu
penso e principalmente o que eu quero saber. Isso não precisa estar explícito
no pré-projeto, mas é importante que seja compreendido pelo aluno. Que esteja
na cabeça dele. Como o próprio nome já diz, hipótese é uma suposição. Pode não
ser confirmada e não há problemas se não for. Pesquisas são realizadas para
isso mesmo.
ALUNO: Tá bom, prof. Fiquei na mesma, mas vou continuar esperando a
inspiração.
PROFESSSOR: Tá bom, cara. Vai lá.