quarta-feira, 18 de julho de 2012


CONVERSA DE UM PROFESSOR E UM ALUNO SOBRE PROJETO DE TCC



ALUNO: Ai meu Deus . . . .  preciso fazer o pré-projeto do tcc. Até agora, só tomei cerveja nas férias . . .
PROFESSOR: Vai fazer o pré-projeto, menino . . . .
ALUNO: Prof, o que precisa ter num pré-projeto?
PROFESSOR: Gente, como o próprio nome já diz, é um pré-projeto. Pode sofrer algumas modificações. É importante que tenha um número de referências viável, ou seja, seja embasado na literatura, que tenha uma idéia plausível (ou seja, não precisa estar sozinho numa torre de marfim, você pode fazer algo que outros já fizeram, porém com embasamento), e que seja organizado, bem escrito.
Para escrever um texto, sempre pensamos no leitor. A dica é: Depois de escrever, guarde. Deixe um dia descansando. No dia seguinte, leia em voz alta. Se tiver alguma parte do texto que você não entendeu, é claro que o leitor também não vai. Não tenha pressa. Isso não tem nada a ver com a inspiração dos músicos.
Um pré-projeto tem que ter uma introdução, que é o item onde o autor irá aproximar o leitor sobre o tema que tratará o projeto. Por exemplo, se eu vou analisar a prevalência de depressão pós-parto em puérperas da Unidade de Saúde do Jardim xxxxxx (meu Deus, de onde eu tirei essa . . .  ahahah . . .), você vai ter que falar um pouco sobre a depressão, depois sobre especificamente a do pós-parto, suas conseqüências, causas e a relação da Fisio com esta prática.
Logo após a introdução, vem a justificativa. Nesse item, você deve se perguntar o por quê. Ou seja, por quê eu preciso estudar a depressão pós-parto? Por quê estudar acidentes de motocicleta que aconteceram na Avenida Colombo em Maringá no ano 2054? Daí, responde-se a pergunta. Para isso, tem que ter referências de estudos que digam que isso é importante, que provoca um custo alto para o sistema de saúde, etc.
Logo depois vem o (s) objetivo (s). É fundamental que um bom objetivo seja traçado. Como já sabemos, um objetivo começa com um verbo no infinitivo. Por exemplo: conhecer a prevalência de depressão pós-parto em puérperas da Unidade Básica de Saúde do Jardim São Manoel do Nordeste. Este seria meu objetivo geral, ou seja, o mais importante, mais forte, o que eu realmente quero saber. Objetivo específico é que vem em segundo plano, menos importante. Por exemplo, eu penso em ir até a UBS para olhar nos prontuários para saber quantas e quais as características da depressão pós-parto (medicamentos, Fisioterapia, tempo de depressão, etc.). Já que eu vou até a UBS, vou ter que produzir um roteiro ou um instrumento de coleta, que eu utilizarei para coletar os dados. Então um objetivo específico simples seria: Produzir instrumento para coleta de dados dos prontuários.
Logo após vem a metodologia. Sabemos que é um item fundamental. Aí tem que ir COMO queremos fazer o trabalho. Assim, estará aí o local do estudo, como é o prontuário, quais as variáveis que vou coletar (medicamentos, Fisioterapia, condutas, tempo de depressão, etc.), como vou analisá-las, com que programas, etc. Se você pretende tratar paciente, descreva exatamente como será o tratamento inteirinho, referenciado, com mais de 2 referências, se possível. Se você vai avaliar paciente, descreva os testes da mesma forma. Se você vai avaliar, depois tratar e depois reavaliar, explique cada uma das etapas detalhadamente, com referências. EXPLIQUE TUDO . . . . .
Depois vem um cronograma organizado numa tabela. Pode ser organizado mensalmente, sendo que devem existir etapas de execução na coluna. Podem ser: Levantamento bibliográfico, coleta de dados – parte 1, coleta de dados – parte 2, análise dos dados, redação final, correção, entrega a banca examinadora, defesa, entrega da versão definitiva. (é um exemplo).
Logo depois, vem as referências. Se tem dúvidas de como citá-las, faça pela ABNT. Se tiver dificuldade, tá mais fácil nas normas da Revista Uningá, no site da Uningá.
Se você for utilizar algum questionário já validado na literatura, como por exemplo, o sf36, coloque-o em anexo. Se você mesma está preparando seu instrumento de coleta e já tem ele pronto, também coloque. Pode ser um exemplo, uma ficha de avaliação dos seus pacientes.

Dicas extras: Faça uma capa, um sumário, deixe seu texto organizado e formatado.
Você tem apenas 1 ano ou menos para a execução do seu projeto. Não vai achar que dá tempo pra atender 355 pessoas e fazer com cada uma delas 50 sessões. Vai com calma. Melhor fazer algo pequeno, enxuto e bem organizado.
Acompanhe o que a literatura fala sobre o assunto. Seja prudente e circunscrito. Lembre-se de não estar na torre de marfim sozinho.
Se você tem alguma facilidade com um tema, escolha ele.
Se você tem algum facilidade em entrar num Hospital, por exemplo, porque já trabalhou lá ou trabalha, escolha fazer o tcc lá. Vai ser mais fácil, principalmente a coleta de dados.
Se for possível e já souber fazer, faça um termo de consentimento livre e esclarecido. É um termo que os pacientes que vocês irá coletar dados terão que assinar. Os termos que ele contém são fáceis. É para leigos.
Gráficos e tabelas também podem ser colocados no texto, para ilustrar o que está escrito. Redija um título para cada ilustração e não esqueça de citar a fonte.
Referências dever ser de literatura científica. Referencie só coisa boa. De revistas boas. Referências de sites, principalmente quando não tem quem escreveu são pobres, fracas, qualquer um pode escrever o que quiser e postar num site ou blog (hahahaha . . .).
Não se esqueça de ler o próprio texto no dia seguinte para ver se você mesmo que escreveu, entende. Se possível em voz alta e para outra pessoa escutar. Não pode ser o gato nem o cachorro.

ALUNO: Prof, isso tudo eu já sabia. Mas o que eu não consigo é pensar num tema. Queria fazer sobre crianças. Me ajuda?
PROFESSOR: Existem milhares de coisas que você pode pesquisar nas crianças. Você tem que definir algo. Exemplo: Analisar a interferência da retificação dorsal (ou dorso plano) em crianças com encurtamentos de IT. Pra isso, você tem que pensar se tem essa possibilidade. Se você conhece alguma clínica que tem vários pacientes deste quadro, etc.
ALUNO: Mas e de Pneumo???
PROFESSOR: Você é que tem que ver o que quer pesquisar. Exemplo: Quero analisar a força muscular respiratória em pacientes lesados medulares. Sei lá . . . Qualquer coisa, cara . . . Nesta fase que eu estou, eu iria analisar a prevalência de retificação dorsal em pacientes com hérnia discal. Hahah h h h . . . .
As dicas estão aí. Escolha algo que goste, pois você vai ler muito sobre o assunto. Vai estudar bastante. Tem que gostar daquilo.
Algumas pessoas estudam Metodologia Científica e tratam isso em fases, quase da forma que falei pra você. As vezes, fala de um problema.
Exemplo: Orientei um tcc agora que tinha um problema: O importante número de acidentes de trânsito na Avenida Colombo. Isso porque sempre escutamos falar que isso é uma epidemia e que um tempo atrás os radares foram tirados da avenida por causa da mudança da Polícia. A partir daí, é possível formular uma hipótese (suposição). Portanto, aí vai:

Resumo metodológico: Analisando dados de acidentes de antes e depois da mudança de comando da Polícia, é possível ver se os acidentes aumentaram ou não e como os padrões deles se modificaram.
Tema: Violência no trânsito
Problema: Crescente e epidêmico número de acidentes de trânsito em Maringá, que provoca aumento de custos para o indivíduo, sistema de saúde e sociedade
Hipótese: O número e a gravidade dos acidentes de trânsito na Avenida Colombo aumentaram depois da mudança de comando da Polícia

Desta forma, tenho organizado na minha cabeça o que eu acho que vai acontecer, o que eu penso e principalmente o que eu quero saber. Isso não precisa estar explícito no pré-projeto, mas é importante que seja compreendido pelo aluno. Que esteja na cabeça dele. Como o próprio nome já diz, hipótese é uma suposição. Pode não ser confirmada e não há problemas se não for. Pesquisas são realizadas para isso mesmo.

ALUNO: Tá bom, prof. Fiquei na mesma, mas vou continuar esperando a inspiração.
PROFESSSOR: Tá bom, cara. Vai lá.